terça-feira, março 21, 2006

"Nao trocaria essa minha vida por nada"

Raquel Gonçalves, em viagem por Pernambuco

Maré seca: hora de trabalhar. Jangada Jaênia no rio aguarda sua primeira viagem. Apaixonado por onde mora e pelo seu trabalho, é no mangue que Ênio José, 29 anos, compartilha suas experiências com as pessoas, faz novas amizades e ainda trabalha tranqüilamente na melodia do mar, misturada ao grande encontro com rio. A sua harmonia com o lugar desperta admiração por sua forma de viver, tão simples mas com uma qualidade de vida invejável. É dessa forma tranqüila e sossegada que 30 por cento da vila de Maracaípe sobrevive e sustenta suas famílias nos arredores do mangue em Pernambuco.

Uma casinha localizada a 100m da praia, imersa no mangue, onde só se chega a pé, na maré baixa, ou de barco. Localizada a cinco minutos de jangada do seu local de trabalho. Uma mulher e dois filhos para alimentar, amar e sustentar. A jangada leva o nome de sua filha mais velha: Jaênia, 3 anos e 8 meses. Ênio nasceu em Ipojuca, morou em Sirinhaém, mas vive a sete anos no Pontal de Maracaípe. Todas cidades próximas ao Pontal. “Eu sou um homem muito feliz aqui com minha família”
O passeio de jangada pelo Pontal esclarece aos visitantes a respeito da vida no mangue. Os jangadeiros puderam se aperfeiçoar nos conhecimentos com um treinamento oferecido à Associação dos Jangadeiros pelos estudantes da Universidade Federal de Pernambuco. Biodiversidade: Cavalos Marinho, Pepino do mar, Chiér, Aratu, siri. Marrom, vermelho, amarelo. “O cavalo Marinho se camufla de acordo com o ambiente, no mangue ele fica marrom, sabiam?” Indefeso e delicado, os bichinhos parecem deslizar sobre as mãos de Ênio, que não nos deixa tocá-lo. “Eles são muito frágeis, é melhor não tocá-los”. Parece que a intimidade entre eles é muito maior que qualquer relação humana. Logo lá vem ele com um Pepino do Mar. “È por essa mesma cavidade que ele se alimenta e elimina seus dejetos”. Ênio nos mostra a forma de defesa do Pepino, esse estranho animal que transita entre o mar e o mangue. “É iagual ao Polvo, quando se sente ameaçado solta essa substância lilás para se esconder e fugir”.
Ao chegar perto das ilhas que se formam no meio do mangue, devido a maré seca, Ênio nos mostra várias espécies de caranguejos transitando na superfície. “Eles estão de ‘andada’, época do acasalamento”. Por isso eles ficam tão elétricos correndo e se movimentando no meio da vegetação do mangue. Chico Science utilizou-se dessa metáfora quando compôs Risoflora para falar dos instintos e do amor. O mangue é apaixonante quando se estabelece um contato profundo e íntimo com os seres que compõem esse local. Mais na frente, assistimos a dança dos Chiér, mais um tipo de caranguejo, com um pouco mais de 3cm, que se locomovem de forma rápida e escondem-se em seus pequeninos buracos na areia pouco permeável do mangue. Mesmo mangue que foi cenário de clipes alucinados do finado Chico tão apaixonado pelo mangue pernambucano.Ênio José: assim como muitos ali no Pontal, brincam a vida levando a sério, conversando com os bichos e conhecendo gente nova. Integrando cada vez mais a vida do mangue, é também responsável pela harmonia necessária entre homem e natureza.

Risoflora
Chico Science e Naçâo Zumbi

Eu sou um caranguejo e estou de andada só por sua causa,
só por você, só por você
e quando estou contigo eu quero gostar
e quando estou um pouco mais junto eu quero te amar
e aí te deixar de lado como a flor que eu tinha na mão
e a esqueci na calçada só por esquecer
apenas porque você não sabe voltar pra mim
Oh Risoflora! vou ficar de andada até te achar
prometo meu amor vou me regenerar
Oh Risoflora! não vou dar mais bobeira dentro de um caritó
Oh Risoflora, não me deixe só
Eu sou um caranguejo e quero gostar
Enquanto estou um pouco mais junto eu quero te amar
E acho que você não sabe o que é isso não
E se sabe pelo menos você pode fingir
E em vez de cair em tuas mão preferia os teus braços
E em meus braços te levarei como uma flor
Pra minha maloca na beira do rio, meu amor!
Oh Risoflora!
Vou ficar de andada até te achar
Prometo meu amor vou me regenerar
Oh Risoflora!
Não vou dar mais bobeira dentro de um caritó
Oh Risoflora, não me deixe só