Debaixo do rubro carpete
Até agora, confesso, a melhor coisa em todos os dias da feira do livro do Ceará. Melhor até que as loucas piruetas verbais de Carpinejar e os “contemas” de Pieiro. Melhor que café gratuito e palestras cheias de cadeiras sobrando para invisíveis interessados – juro por Deus, muito melhor.
Já o tinha percebido antes, perambulando, feito gorgulho de feijão, entre os granfinos e granfinas. Pareceu-me, à primeira vista, surreal, ali, metido naqueles trapos a caminhar sobre o rubro carpete. Sorvia, tresloucado, o cheiro bom de livros novos, pilhas e pilhas de Dan Brown a cegar-nos com o seu brilho de capas-duras. Sim, dúvida não havia: era ele, o mesmo da Praça do Ferreira, o mesmíssimo.
Em pouco, entretanto, sumia-se, quem sabe tragado pelo chão – que não era de brigadeiro. Para reaperecer, milagrosamente, a alguns metros dali. A mesma barba enrodilhada e grisalha, o mesmo hálito, as mesmas bambas pernas magras com que se desequilibrava no mundo. Tudo, em aparência, a mesma coisa.
Pensei ligeiro: algum segurança.
Isso mesmo, satisfeito ante o raciocínio objetivo: fora detectado, eficientemente apontado no painel de controle que ficava naquela saleta aos fundos do último bloco. Uma luz vermelha piscando no monitor quase fizera o chefe da segurança cuspir o café solúvel sobre as muitas dezenas de botões que atrapalhavam mais que ajudavam.
Era preciso agir rápido, veloz, pensou o chefe. Em dois monossílabos, e grupos de homens já se dirigiam ao bloco G – era lá, num dos corredores de maior movimento da feira de livros do Ceará que, bestamente, caminhava Mário Gomes, o poeta maldito.
No mesmo dia, para meu espanto, vi-o ainda uma vez: sentado a um canto, à entrada do auditório principal. Necessário que se diga: tal Mário Gomes, era também um invisível, ali, estaca, folheando cordéis. Ele, agachado e maltrapilho, tirava lascas das unhas pretas.
Aproximei-me: onde a cerimônia?, perguntei ao poeta.
Saiu-se com esta: “Comi com farinha”.
Já o tinha percebido antes, perambulando, feito gorgulho de feijão, entre os granfinos e granfinas. Pareceu-me, à primeira vista, surreal, ali, metido naqueles trapos a caminhar sobre o rubro carpete. Sorvia, tresloucado, o cheiro bom de livros novos, pilhas e pilhas de Dan Brown a cegar-nos com o seu brilho de capas-duras. Sim, dúvida não havia: era ele, o mesmo da Praça do Ferreira, o mesmíssimo.
Em pouco, entretanto, sumia-se, quem sabe tragado pelo chão – que não era de brigadeiro. Para reaperecer, milagrosamente, a alguns metros dali. A mesma barba enrodilhada e grisalha, o mesmo hálito, as mesmas bambas pernas magras com que se desequilibrava no mundo. Tudo, em aparência, a mesma coisa.
Pensei ligeiro: algum segurança.
Isso mesmo, satisfeito ante o raciocínio objetivo: fora detectado, eficientemente apontado no painel de controle que ficava naquela saleta aos fundos do último bloco. Uma luz vermelha piscando no monitor quase fizera o chefe da segurança cuspir o café solúvel sobre as muitas dezenas de botões que atrapalhavam mais que ajudavam.
Era preciso agir rápido, veloz, pensou o chefe. Em dois monossílabos, e grupos de homens já se dirigiam ao bloco G – era lá, num dos corredores de maior movimento da feira de livros do Ceará que, bestamente, caminhava Mário Gomes, o poeta maldito.
No mesmo dia, para meu espanto, vi-o ainda uma vez: sentado a um canto, à entrada do auditório principal. Necessário que se diga: tal Mário Gomes, era também um invisível, ali, estaca, folheando cordéis. Ele, agachado e maltrapilho, tirava lascas das unhas pretas.
Aproximei-me: onde a cerimônia?, perguntei ao poeta.
Saiu-se com esta: “Comi com farinha”.
por henrique araújo
1 Comentários
tah...logo de cara, no começo do texto, já dá pra saber de quem se fala...mas num vo nem mentir que, no final, a primeira coisa que veio a minha cabeça foi: "ããnnnnnnnn?!?!?!"
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