sexta-feira, setembro 01, 2006

Nós é nigeriano!


"Nós é nigeriano", o Bruno Xavier (o da foto, falando, pouco antes da exibição na Bienal) soltou em uma das reuniões do grupo na casa do Eduardo, quando a gente marcava dia e hora para as filmagens, intensivas filmagens de 3 dias seguindos, no terminal de ônibus do Papicu, pela madrugada. Três dias com o tal do relógio biológico desorientado. Idéia que por mais represente nosso corpo sob o tempo compartimentado de nosso cotidiano hierarquizado, diz algo fundamental: "A noite, o frio da lua, foi feito pra dormir". Esta uma frase de um cozinheiro entrevistado numa dessas madrugadas, que por incoerência, não gravei o nome.

Três dias. Coisa pouca, pra o próprio cozinheiro ou para outros tantos com os quais falamos ou para o Paulo, trocador do terminal, que passa suas madrugadas em uma guarita, ao som da roleta, do bip do passecard, da televisão e seus filmes do Intercine, intercalo por propagandas de lançamentos da Som Livre.

"Nós é nigeriano". Eu senti algo naquela vez, bem mais que o riso que me escapou, instânteneo, como são os melhores, quando ouvi o sotaque paulistano do Bruno dizer aquilo. Não sei, desde quando eu li a reportagem na BRAVO! da tal indústria cinematográfica da Nigéria produtora de mais de 900 filmes por anos, bem maior, na verdade o triplo, da estadounidesnde ou mesmo dos 600 da Índia. Não sei, quando eu li aquilo, lá dizia, que o país não tinha praticamente salas de cinema, que a distribuição era feita pela venda de cópias de DVD por 3 dólares, pelos camêlos, os mesmo que aqui são perseguidos pela velha muamba. Desde quando eu li aquilo, algo que me fez novamente virar o olhar para a BRAVO!, senti algo. Agora sei: "Nós é nigeriano". As palavras fazem a gente saber das coisas.

O Cadeiras com Rodas foi filmado nos mesmos três dias, editado em mais um. Algo perto de 3 semanas, um mês, entre o rec e o play, em uma tarde ali na Bienal, de pompa, Internacional do Livro do Ceará, em uma sala em que pudemos exibir e discutir nossa produção, ainda inacabada, mas vigorosa. Falta finalizar e começar a vender o DVD. Muamba nigeriana. Tráfico transnacional de concepções.

um abraço,
pedro rocha

3 Comentários

Anonymous Anônimo said...

nesse dia vi o qto o audio visual atrai as pessoas, o fascínio dos olhos das pessoas, mesmo que muitas vezes se esforçando para entender as vozes de um video amador como o nosso, encantam o público. Bom demais começar a trabalhar essa linguagem no grupo.

6:12 PM  
Anonymous Anônimo said...

ai, que frustração por não ter podido ir e participar das discussões...ainda bem que vi o vídeo antes..quando estava sendo editado...
quanto ao texto achei que está meio confuso e precisando de uma pequena revisão, mas na essência..passou direitinho o recado!=)

5:42 PM  
Anonymous Anônimo said...

Uma coisa que me doeu nessa Bienal foi não ter podido ir à exibição/discussão do vídeo. Passo pelo terminal do Papicu praticamente todos os dias. Estava ansiosa por este olhar de estranhamento que o vídeo de vocês poderias trazer à minha familiaridade. Quando vão passar de novo? =D

Muito bom, o texto. Instigante. Li sobre a indústria cinematográfica nigeriana esses dias, mas só fui pegar a referância quando a matéria da BRAVO! foi mencionada.

9:33 PM  

Postar um comentário

<< Home