domingo, agosto 19, 2007

Quem é o dedo duro?


Em julho de 1968 gloriosa revolução de 1964 se consolidava rumo a efetivação dos direitos inalienáveis de seus generais. Faltava pouco para Costa e Silva baixar o pau de vez e instaurar o AI-5. Nas bancas, chegava a edição número 28 da Revista Realidade, ao custo de NCr$ 1,50 (cruzados novos), estampando uma foto de Luís Travassos na capa, presidente da União Nacional dos Estudantes e pivô de uma disputa política ferrenha dentro da entidade contra outro militante estudantil, José Dirceu. Trazia ainda, entre outras reportagens, o relato do repórter José Hamilton Ribeiro, convalescendo em uma maca de hospital no Vietnam, depois de ter uma de suas pernas arrancada por uma mina enquanto acompanhava um esquadrão estadounidense durante a cobertura da guerra internacional que movimentava aqueles anos. A Revista Realidade chegava ao ápice de seu jornalismo que no próximo ano começaria a declinar, perdendo espaço dentro da Editora Abril para a, na época recém-criada, Revista Veja.

Nessa mesma edição, sob o tema "Polícia", o escritor João Antônio publicava seu segundo texto na revista, depois de passagem, em dois anos de carreira, pelo Jornal do Brasil, pela revista feminina Cláudia e pelo jornal Última Hora. João Antônio não negava querer viver só da literatura, mas na falta, seguia desenvolvendo um jornalismo intimamente ligado a sua ficção, apesar da forte motivação de subsistência. Na reportagem "Quem é o dedo duro?", seguia um dos temas caros a ele, a margilinalidade, sempre com um faro para os "tipos" brasileiros e seu linguajar, costurando tudo com descrições sucintas e uma narrativa precisa.

A reportagem, além de sua temática impressionante (o trabalho informal de um delator trabalhando para a polícia carioca no meio da malandragem), inquieta pela forma onisciente de narrar de João Antônio que não apresenta nem as circuntância em que encontrou o personagem principal, Zé Peteleco. As fotos também esquentam as orelhas. Cheiram a um ensaio ilustrativo, mas aquele dedo do fotógrafo na última imagem só se justificaria em um publicação como Realidade pela pressa ou coisa do tipo.

O grupo TR.E.M.A. disponibiliza fotos e texto desta reportagem na íntegra. Uma faceta intrigante do mundo anônimo que se esgueira diante de nossos olhos narrada por um discreto cagüeta jornalístico.

Quem é o dedo duro?

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