quarta-feira, dezembro 06, 2006

Cadeira com rodas chega à Parangaba



Texto: Tiago Coutinho
Foto: Tiago Régis

Enquanto isso, Lorena dorme na casa da mãe. Na mesma noite, a rádio Cidade toca uma música que agrada Paulo. Ele não pode ficar muito distraído. Se bobear, a galera entra pelo portão sem pagar. Aí, ele se fode. É chamado atenção. O terminal da Parangaba não possui muros. De dentro, dá até pra vê os anúncios do show de forró que acontecerá em breve. Lá o vento sopra mais forte e carrega consigo, às vezes, pessoas com a intenção de burlar a segurança. Paulo precisa pregar os olhos nos dois portões principais. Um para cada olho. O suficiente. Nos finais de semana, principalmente, alguns bebos chatos perturbam para entrar. Ele precisa dizer não. Está no emprego há pouco mais de dois meses. Precisa garantir os 464 reais, os vale-transportes e os vale-refeições. E manter a casa, onde mora com Lorena.

Lorena dorme, ou não. Talvez, perto dos trilhos, a noite esteja mais animada do que os ritmos dos fones de ouvido de Paulo. Nos trilhos. Nas trilhas. Os esquemas, as paradas. Já faz um ano que aquela história aconteceu. Há uns três meses, esteve no Fórum Clovis Beviláqua e viu que sua ficha tava limpa. Ficou orgulhoso. A história parece estar resolvida. Foi tão rápido. E tanta coisa aconteceu no pequeno tempo de um ano.

Paulo Leandro. 18 anos. Negro. Casado com Lorena. Cursa o segundo ano do segundo grau no colégio Eduardo Campos, no bairro morro do ouro, perto da sua casa. Nas terças e nas quintas-feiras, bate um racha com os amigos na escola. A aula termina mais cedo. Vigia o terminal de ônibus da Parangaba. Trabalha um dia sim e outro não das 23h às 5h. Mora no Beco da Rapousa, perto do Jacarecanga, perto do Hiper Mercantil, onde tem uns trilhos; perto do Liceu do Ceará, onde vai fazer cursinho pro vestibular. Quer cursar Administração. Deseja ter um bom emprego. Ouviu dizer que na Fanor pode estudar de graça por causa do Prouni. Vai se informar melhor.

Para chegar ao emprego, ele anda até a Francisco Sá. Pega o clube dos regatas e segue direto. Rumo ao terminal. No caminho, os fones não saem do ouvido. Gosta de reggae, pop rock e hip hop. Curte Racionais e MV Bill. Nas noites em que está fora de casa, Lorena, sua esposa, com medo de dormir sozinha, vai pra casa da mãe. Espera Paulo chegar de manhã. Tomam café da manhã juntos. Eles se amam.O olhar dele ao falar dela não nega.

Estão juntos há quase quatro anos. Ela tem 15. Ele, 18. Sempre moraram pertos. As famílias se conhecem. Quando quiseram dormir juntos, as mães não deixaram. Paulo não podia dormir na casa de Lorena. Lorena não podia passar a noite na casa de Paulo. Saíram de casa. Arrumaram uma casinha ali mesmo, pelas bandas do Beco da Rapousa. As mães ajudam nas contas. E eles podem dormir juntos, tranqüilos. Mas não todas as noites. Noite sim, noite não. Paulo trabalha.

Dias desses, Paulo terminou de ler um livro alugado na biblioteca do seu colégio. Gostou. Chamava-se "O Pensamento". Era a história de um cara que contava sua própria vida. Desde o comecinho, quando era moleque e freqüentava à escola. Depois procurava um emprego, uma mulher. Era isso. A vida do cara.- E, você, Paulo, não quer escrever sua história também? Escreve aí, cara...

- Não! Só tem coisa que não presta. – E enrolava nos dedos os fios que seguram oseu rádio. Olhos atentos para o chão – Eu fazia coisas erradas.
- Que coisas?
- Coisas erradas. Drogas...
- Você consumia?
- Consumia e vendia. E roubava.

Cada vez mais, enrolava nos dedos os fios de um lado para o outro. Girava de um lado para outro.

O contato era a galera de depois da passarela, ali perto dos trilhos do Hiper Mercantil da Bezerra de Menezes. Lá tem umas paradas certas. Os caras encomendam uns modelos de celular. É só ir atrás e trazer que a grana ta garantida. Primeiro só no grito. Um canivete talvez. Depois veio o toca fita, um 38, seqüestro a mão armada, até atirar nas pernas de alguém que tentou reagir e quis correr. A mãe ameaçou colocá-lo para fora de casa por causa do silêncio. Ele não dizia de onde conseguia o dinheiro.

Tinha maconha, tinha pó. Tinha umas vendas pelos lados da Praça da Lagoa. A Lorena não gostava. Ele negava. Mas ela sabia que o acontecia. Todo mundo sabia. Até que veio o vacilo pra confirmar. A Febem pegou duas vezes e soltou. Na terceira, ficou 48 dias. Apanhou sem motivo. Ficou na tranca esperando sem camisa uma vaga em uma das celas. Depois saiu. Viu que o esquema era sério. Já faz um ano. Se arrepende. Tem vergonha de escrever, mas talvez goste de contar com o motivo de superação e orgulho.

Paulo conta a história. Edvaldo, do lado de fora, tenta entrar de graça no terminal. Não pode! Deixar eu entrar, aí, mah... Edvaldo desiste. Senta na calçada. Escuta a história de Paulo. A tensão arma o cenário. E o radinho balança ainda mais forte entre os dedos de Paulo. É Febem, né? – interrompe Edvaldo. É! Eu, graças a Deus, nunca fui pegue. Já tou com 17 anos. Edvaldo pergunta se Paulo conhece uns amigos dele. Parece que sim. A cuspida constante marca cada fala. Edvaldo tem uma mulher e uma filha. Para sustento, vende bombom. Quer entrar naquela noite de graça no terminal. Mas o terminal só tem vendedor de bombom cadastrado. São 48. Quando abriram as vagas pro da Parangaba, ele perdeu a chance. Mas parece que morreu um cara há pouco, e ele vai entrar nesse esquema. Edvaldo senta na calçada. Eles conversam. Paulo no banco, dentro do terminal.

13 Comentários

Anonymous Anônimo said...

... nem sei o que dizer...

9:35 AM  
Anonymous Anônimo said...

voltamos atendendo a seus pedidos marília e você não sabe oq que dizer?!

8:08 PM  
Anonymous Anônimo said...

hahahahaha!!!
é porque eu achei o texto meio... forte... sei la... fiquei meio..ãaa...não sei explicar escrevendo...
mas desculpa, então...!!!=D

8:17 PM  
Blogger Diógenes said...

Caramba, eu já tinha ouvido a história sendo contada assim que a experiência dessa narrativa tinha sido realizada. E o que me pareceu é que na forma da escrita ela conseguiu captar com um poder de síntese e força (as frases curtas ajudam muito nesse sentido)impressionantes. Poxa, bateu um misto de aflição e orgulho neste momento.
Aflição por não me sentir capaz de alçar tais vôos no transitar com pessoas, palavras e sensibilidades tão esplêndidas e orgulho por de alguma forma ter dialogado com que está aí, de conhecer o Pedro, o Tiago, o Régis, a Raquel, o Ramon, a Angélica, o Eduardo, o Henrique enfim...muito massa. A minha preocupação maior neste momento é que as coisas não se percam, que ela se densevolva num rítimo não-maquiníco, como até agora ocorreu.

Forte abraço a todos vocês meus querid@s.

1:15 AM  
Anonymous Anônimo said...

Diógenes, eu acho que o texto resume bem a situação narrada pelo paulo pra mim. Mas nada como a experiência de conversar com ele. Fico feliz de cativar orgulho em vc hehehe. Fico ainda mais satisfeito porque penso ter atingindo o equilíbrio. O texto poderia ser sensacionalista facilmente, mas creio ter saído disso... abraços. vamos dialogando, pensando...

9:02 AM  
Anonymous Anônimo said...

já tinha comentado, brevemente, esse texto do coutinho. na ocasião, o menino resmungou: aquilo não foi comentário!!! mas é isso mesmo: muita força, palavras que cortam, frases que surgem de um desvão e nos atingem na garganta: daí a marília não ter conseguido falar... enfim: "uma faca só lâmina", como na poesia de joão cabral.

abraços a todos e um desabafo: que lindo ver o blog assim, movimentado!!!

12:01 PM  
Anonymous Anônimo said...

Quanta coisa a gente descobre das pessoas só em parar pra conversar, né? Deve ter sido uma experiência sensacional. Se ler o texto que surgiu dela já é...!

11:10 AM  
Anonymous Anônimo said...

Clovis Bevilaqua, gran jurista

1:43 PM  
Anonymous Anônimo said...

Parangaba – Antiga Vila Nova de Arronches do Ceará

Parabéns, excelente blogger, gostei da história da Parangaba.
Já agora aproveitando, como estou a efectuar um trabalho sobre Parangaba, a antiga Vila Nova de Arronches do Ceará, gostaria de partilhar informação e fotos, se tem alguém interessado no tema, agradeço vossos contributos.
O meu endereço é:

emiliomoitas@mail.pt

Eu vivo em Portugal, em Arronches.
Aguardo as vossas notícias.

8:51 PM  
Anonymous Anônimo said...

Don Manuel Salord Bertrán, gran jurista, hombre cabal

3:23 PM  
Anonymous Anônimo said...

Saiba um pouco mais da história da Parangaba e da antiga Vila nova de Arronches do Ceará.

Links


Texto e fotos
http://www.jornalfontenova.com/index.php?option=com_content&task=view&id=2678&Itemid=130


Versão PDF
http://www.jornalfontenova.com/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=2678


Fotos
http://www.glosk.com/BR/Parangaba/-928104/photos_pt.htm

8:45 PM  
Anonymous Anônimo said...

PARANGABA LUGAR DE BELEZA

MISTÉRIOS DA ANTIGA "VILA NOVA DE ARRONCHES NO CEARÁ”

Porangaba, Vila Nova de Arronches, Parangaba. Três nomes, um só lugar. Lugar de Beleza, segundo o poeta. O que hoje é um dos muitos bairros que compõem a grande cidade de Fortaleza (capital do Ceará estado do Nordeste Brasileiro), é também signo do desdobramento histórico cearense, pois encerra nas suas tradições e memórias o passado que remonta aos tempos da colonização lusitana em 1603.

Parangaba - (tupiguarani significa beleza, formosura...), situada nas margens da lagoa do mesmo nome, foi um dos mais antigos povoados do Ceará, o chamado aldeamento indígena de Porangaba, que os jesuítas fundaram no séc. XVI.

A vila foi criada a 26 de Maio de 1758 e inaugurada a 25 de Outubro de 1759, passando a chamar-se Arronches (Vila Nova de Arronches). Durante o império foi município, com Intendente e Câmara, ao longo de 112 anos divididos em dois períodos: de 1759 a 1835 e de 1885 a 1921. Anexada a Fortaleza, integra um dos seus mais importantes distritos. Na sua área domina o verde, com os seculares mangueirais, o clima nostálgico, a lagoa paisagística e alguns prédios históricos como o edifício da antiga Prefeitura Distrital, Casas Paroquiais e a centenária casa da Família Pedra, pioneira na indústria da panificação. É ainda na área da Parangaba que se situa o mais antigo cemitério da cidade de Fortaleza.

Como a maioria, ou talvez a totalidade dos arronchenses desconhecia que no Brasil tinha existido esta antiga vila denominada "Vila Nova de Arron-ches", a descoberta ocorreu por mero acaso, numa tarde de Verão, depois de adquirir um velho livro numa banca de rua de Lisboa.

Este livro de edição brasileira, dedicado ao sofrido Nordeste e à dura vida dos cangaceiros (3), fazia referência a um famoso bodegueiro, estabelecido nas imediações da estação de trem (comboio) de Vila Nova de Arronches.

Pesquisando em Portugal, os documentos foram surgindo, confirmando a pista surgida nesse velho livro. Mais tarde com a ajuda das novas tecnologias (Internet), cheguei finalmente a Vila Nova de Arronches, lugar onde contactei com pessoas sensacionais como o Kelson Moreira, coordenador do Instituto Amanaiara, ou a psicopedagoga Rosa Saraiva, professora na Escola General Eudoro Correia da Parangaba, dando início a uma proveitosa parceria com troca de materiais e informações, que nos permitiram um melhor conhecimento do passado histórico e das nossas tradições.



Foi nestas terras cearenses que os padres da Companhia de Jesus em 1607 deram início ao trabalho de evangelização das populações índias. Contam que, no decorrer de grande seca no sertão o Padre Francisco Pinto, homem místico a quem os nativos chamavam Pai Pina, ou Amanaiara, o "senhor das Chuvas", ajoelhando-se, acenou ao céu e fez uma oração pedindo chuva. A sua oração foi atendida e ele passou a ser muito querido entre os nativos. Ao que parece ele teria utilizado o símbolo de uma coroa de espinhos para levar a mensagem evangélica aos indígenas destas terras. Saía em procissão de aldeia em aldeia, falando do Cristo, o Bom Jesus dos Aflitos e convidando a todos para as celebrações do nascimento de Jesus, que tinham lugar pelo Natal.

Em 1608, um grupo de indígenas chamados Tucurujus, inimigos dos portugueses, mataram o Padre Francisco Pinto na Serra da Ibiapaba. Os seus restos mortais foram sepultados pelo padre Luiz Figueira, no sopé daquela serra.

Mais tarde quando em 1612 houve uma grande estiagem, os Potiguaras não tiveram receio de trazer para a sua aldeia os ossos do Pai Pina que seriam como um amuleto contra a seca.

Também neste mesmo ano veio para o Ceará Martins Soares Moreno que aqui permaneceu até 1631. Dizem que durante a sua passagem por estas terras, viveu aqui pacificamente com os índios e fez profunda amizade com um de nome Jacaúna.

Depois de longo período sem catequese, apenas em 1694 chegam os padres Manuel Pedroso Júnior e Ascenso Gago para retomar o trabalho das missões.

Em 14 de Setembro de 1758 por Ordem Régia decretada em Lisboa, o Marquês de Pombal, decretou a extinção da Companhia de Jesus, acabando os jesuítas da extinta companhia responsáveis pela missão da Porangaba, por serem expulsos para Pernambuco, com destino às masmorras de Portugal, sendo a sua aldeia transformada em vila.

Em 1758 guiada pelo padre António Coelho Cabral, a Missão do Bom Jesus da Porangaba é transferida para o local actual e passa a chamar-se Vila Nova de Arronches, sob invocação de N. Sra. das Maravilhas, em homenagem à antiga vila de Arronches existente em Portugal. Nome lusitano que manteve até 1 de Janeiro de 1944, quando em conformidade com o Decreto-Lei nº. 1114 de 30 de Dezembro de 1943, voltou a adoptar o antigo nome do aldeamento fundado pelo saudoso Pai Pina, nome ligeiramente alterado de Porangaba para Parangaba.



A devoção destes povos ao Bom Jesus dos Aflitos vinha de longe e sempre foi muito forte. Por isso ainda em 1759, fora ordenado que a jovem vila de Arronches tivesse por padroeiro, em lugar de N. Sra. das Maravilhas o Bom Jesus.

É neste mesmo lugar que ainda hoje se celebra com pompa e regozijo a Festa da chegada dos Caboclos (4), ou da Coroa do Bom Jesus dos Aflitos, que tem início no segundo domingo de Setembro, com a descida da Coroa que vai em peregrinação por diferentes lugares, só terminando no dia de Reis, a 6 de Janeiro, com a colocação da Coroa na imagem de Cristo crucificado, da igreja do Bom Jesus dos Aflitos, existente na praça dos Caboclos da Parangaba.

Segundo a tradição local, as gentes da Parangaba dizem que a Coroa do Bom Jesus, foi oferta do Rei de Portugal, aquando da construção da igreja.

Situada a poucos quilómetros de paradisíacas praias a antiga Vila Nova de Arronches (Parangaba), é hoje um importante e central bairro da capital cearense. É nele que encontramos uma importante e histórica estação ferroviária e um terminal de interligação dos transportes colectivos, agregando uma grande quantidade de linhas, que nos levam a diversos lugares de Fortaleza. Partindo de Parangaba, facilmente se chega a diferentes pontos turísticos fortalezenses, como o Centro Cultural Dragão do Mar, Mercado Central, Ponte Metálica, praias e outros lugares de interesse. No futuro seria interessante assistir-se ao estreitar de relações de Arronches com esta terra brasileira. Cabe agora às Escolas em especial a E.B.2, 3 de N. Sra. da Luz, Associações culturais e desportivas, Paróquia e em especial à Autarquia local caminharem nesse sentido. Podendo-se agora partir para um novo ciclo, que poderá ter um papel preponderante, contribuindo para o estreitar de relações de amizade, e levando eventualmente a um intercâmbio cultural bastante interessante. No futuro caso o interesse seja recíproco poder-se-ia mesmo culminar num protocolo de geminação entre ambas as comunidades.

Vejam-se os casos do Crato, ou das "Porto/alegres", portuguesa e brasileira, processos desencadeados pelo município do Crato e pelo jornal Fonte Nova (Portalegre), que já permitiram um interessante intercâmbio cultural entre ambas as comunidades.

Pela nossa parte no respeitante a Arronches, com este pequeno trabalho, esperamos contribuir para o estreitar de relações entre ambas as comunidades, dando início a um novo ciclo que nos permita mantermos viva a nossa memória histórica.

Para mais informação relacionada com este tema, poderá aceder à página web do Instituto Amanaiara Parangaba Brasil http://amanaiara.vila bol.com.br ou para o e-mail: emiliomoitas@mail.pt


1- Pitiguaras - grande nação índia que habitava o litoral do nordeste brasileiro, segundo José de Alencar (1984), significa "Senhores dos Vales"

2- Alencar, José de. Iracema: Texto integral. Lisboa - Livros Europa -América - 1973

3- Cangaceiros - salteadores, bandoleiros do sertão brasileiro.

4- Caboclos - mestiços de branco e índio

- Fotos Cedidas pelo Instituto Amanaiara (Parangaba)



Bibliografia consultada:


- Parangaba - Sua História e suas Tradições - Ribeiro, Esaú Costa

- Festa da Coroa do Bom Jesus dos Aflitos - Moreira, Kelson

- História do Ceará - dos Índios à Geração Cambeba - Farias, de Aírton (Tropical 1997)

- Os Retirantes - Patrocínio, José do - 1854

- A Normalista - Caminha, Adolfo

- Cultura e Opulência do Brasil - Antonil, André João - 1711 (Lisboa Pub. Alfa, S.A., 1989

- Resistência Indígena no Sertão Nordestino no Período da Pós-Conquista Territorial - Cruz, Maria Idalina

- 1787, Junho, 28; Aracati - Ofício do ouvidor do Ceará, Manuel de Magalhães Pinto e Avelar, ao (Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro), sobre as condições em que vivem os índios na vila de Arronches, bem como sobre o tráfico e comércio de crianças indígenas - Arquivo Histórico Ultramarino Lisboa.


Emílio Moitas


Veja fotos da Parangaba em :

http://www.glosk.com/BR/Parangaba/-928104/photos_pt.htm

8:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

Parangaba - Fortaleza

Livro retrata a história dos índios no Ceará
A transformação dos antigos aldeamentos jesuíticos nos quais viviam as comunidades indígenas no Ceará Grande, nas vilas fundadas por determinação do Marques de Pombal para que se tornassem civilizados, e as conseqüências desse processo são assuntos tratados no livro que Isabelle Braz lançará com os índios da comunidade Tapeba, na próxima quinta-feira, dia 3

Nas vilas Soure, Nova de Arronches, Mecejana, Monte-mor, Novo da América e Viçosa Real, os índios do Ceará foram confinados pelos ocupantes do território cearense e ficaram recolhidos para serem educados e se tornarem "seres civilizados". A vida da população indígena local, nesses cinco vilarejos, é o principal tema tratado por Isabelle Braz no livro Vilas de índios no Ceará Grande - dinâmicas locais sob o Diretório Pombalino, obra que ela estará lançando na próxima quinta-feira, dia 3, às 17 horas, no Centro de Produção Cultural Tapeba, em Caucaia.

Escrito a partir da tese do doutorado em Ciências Sociais, concluída na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na qual a autora foi habilitada em sociedades indígenas, a publicação busca responder questionamentos relativos às implicações que esse processo causou para a identidade étnica dos índios. Já que eles viram seus aldeamentos jesuíticos de Caucaia, Parangaba, Paupina, Paiacu e Ibiapaba transformarem-se, por determinação do Marquês de Pombal, nos vilarejos que receberam outras denominações.

Isabelle afirma ter realizado essa viagem de volta ao mundo das vilas de índios do Ceará, na vigência do Diretório Pombalino, entre 1757 e 1798, para entender melhor essa experiência brasileira. Ela enfocou o processo de inserção dos indígenas no mundo colonial e as transformações socioculturais pelas quais passaram.

A autora mostra ainda um certo embaraço existente na sociedade brasileira em relação às noções de cultura, mudança cultural e identidade étnica, a ponto de ser comum alguns afirmarem hoje em dia que não existem mais índios no Nordeste. Conforme a autora descreve na introdução do seu livro, "mesmo nos meios mais intelectualizados do País é comum ouvir que o movimento indígena no Nordeste não passa de um disfarce da luta pela terra", comum aos expropriados do campo.

Por conta disso, a autora conclui que é difícil para algumas pessoas entender como os índios ditos "aculturados" podem estar reivindicando identidades étnicas, inaugurando um processo que tem sido chamado pelos especialistas de reemergência, revitalização, visibilidade e etnogênese. Esse renascimento, explica Isabelle Braz, "é a marca fundamental da resistência desse povo, que ao longo dos tempos sempre demonstrou força para enfrentar os contrários, garantindo o direito de viver de forma diferente em seus espaços". Ela porém lamenta que dos povos indígenas do Ceará apenas um até agora tenha a sua terra demarcada.

In: Jornal o Povo 31/07/2006

8:43 PM  

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