sexta-feira, abril 21, 2006

Fibra Ótica

Apenas a um quarteirão da minha casa, todos os dias eu acompanho um fluxo de centenas de pessoas entrando e saindo por catracas, de vez em quando um rosto conhecido, uma conversa apressada. Quase toda semana eu escuto uma lenda dessa empresa, desde atendente que não agüentava mais as reclamações e transferia a ligação para o telefone publico do lado de fora da empresa até funcionários que tinham pesadelos com os clientes e os supervisores. Depois de uma semana de tentar barrar as pessoas na entrada e saída de seu trabalho para entrevistá-las escrevi esse texto.

Ramon Cavalcante

E Dona Rita desce outra cerveja que é pra conversa fluir, quem fala agora é a Daniely, 24 anos (vai fazer 25), funcionária da Telemar desde os 17, quando a Contax nem existia ainda, que já foi operadora, monitora, supervisora e agora é do planejamento.
- Eu sou obrigada a dizer? – referindo-se a pergunta que eu fiz quanto ao seu salário.
- Não, claro que não.
- Então eu não vou dizer.
Perpetua, Thiago, Suelen, David, Diego, Arle, Maria, todos operadores, espalhados nos mais diversos setores da empresa, falam na hora, quatrocentos e seis reais por mês, por sei horas e quinze minutos por dia (cinco horas e quarenta e cinco – corrige discretamente a Daniely, já que tem dois intervalos de quinze minutos), seis dias por semana.
- Rapaz, você senta na sua divisória, que é o PA (ponto de atendimento) de frente pro computador e pronto – fala quase calado Thiago que trabalha no setor micro-empresarial da contax (onde atende quase exclusivamente clientes de pontos telefônicos comerciais).
- Ah, no teu setor é tranqüilo né?
É sim, quando você trata com o povo de empresa...
- Mas na retenção é quente o negócio... – Maiara Raquel, que trabalhou quase dois anos no setor e há seis meses está desempregada... mas nem por isso deixou de vir na quinta (véspera de feriado) beber uma cervejinha com os amigos.
- Tem as histórias das metas né?
- É, cada setor tem várias baterias (grupos de trabalho), que disputam entre si quem atinge as maiores metas... só que na retenção a meta é não deixar o cliente cancelar a linha, quando ele quer cancelar...
- E se não alcançar a meta?
- Assim, a maioria das vezes ninguém nem diz nada... mas a gente sente a pressão.
Os setores são o “103” ou “Atendimento Geral” (a porta de entrada da Telemar, lá encaminha para todos os setores), “contas” (verificam as contas dos clientes, atendem a reclamações de contas erradas), “micro-empresarial” (que o Thiago já explicou), “técnica” ou “CNS” (centro nacional de soluções – resolvem os problemas técnicos), “retenção” (o pesadelo dos operadores), “cobrança” ou “RC” (recuperação de crédito).
Com mais de 5.000 funcionários espalhados em cinco andares (além do térreo) em cinco anos de existência a Contax (empresa terceirizada que é da Telemar) é referência na possibilidade do primeiro emprego, assim como é referência num trabalho desgastante e degenerativo m que as pessoas pedem pra sair.
- Se eu pudesse receber meu dinheiro ficando em casa eu achava melhor – Daniely me respondendo se gosta do emprego – mas eu não tenho muito do que reclamar não.
- E essas histórias dos problemas de saúde?
- Bom, eu, em oito anos, nunca tive uma tendinite, nunca tive problema de garganta. O trabalho é desgastante, você digita direto, fala direto, mas a empresa lhe instrui, “mude o fone de ouvido de hora em hora”, “postura correta”, mas aí se você não faz a culpa é da empresa?
- A cada duas horas de trabalho na frente do computador a pessoa tem que descansar aproximadamente vinte minutos. A cada dez minutos olhando pra tela do computador a pessoa tem que parar ao menos um minuto, olhar para outro lado (a divisória?) e piscar bastante os olhos – Doutor Edson Muniz, clinico geral e ortopedista – e isso nós estamos falando numa perspectiva de produção mesmo, que a pessoa tem que render o máximo sem causar seqüelas ao seu corpo.
- Mas tu vai ter que convir comigo Daniely que o funcionário é visto numa perspectiva de produto.
- Sim, mas qual é o produto da Contax? O produto é a pessoa, é isso que nós vendemos, a gente tem que investir nele. Existe uma coisa chamada capitalismo.
E a Dona Rita desce mais uma, agora também um queijinho no espeto pra segurar mais um pouco. Dona Rita essa que há três anos tira o sustento, junto com o irmão Mário, num carrinho de churrasco com algumas caixas de isopor cheias de cerveja gelada. Abre todos os dias, mas quinta e sexta é melhor, dá pra tirar até R$ 1.500 numa noite. E foi por causa dela (obrigado Dona Rita) que eu consegui entrevistar mais pessoas, porque o povo tá sempre entrando e saindo atrasado, de vez em quando um rosto conhecido.
- Eu nem me assusto quando, de férias, atendo meu celular dizendo “Telemar bom dia em que posso ajudá-lo” – Arle do 103.

12 Comentários

Anonymous Anônimo said...

É isso meu povo, acho q esse texto não está acabado, pretendo continuar a apuração, mas aqui abre-se espaço pra discussão, boa parte do povo que eu entrevistei tem o endereço (e eu espero que entre no blog) e pode comentar, discordar mostrar outro angulo. Eu n estou feliz com o que coletei e pretendo voltar lá e comer mais um queijinho.

10:58 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ramon, e o lance da automação? E não entendi o lance de tu ficar dizendo "de vez em quando um rosto conhecido"...

7:49 AM  
Anonymous Anônimo said...

faltou muita coisa ramon. O texto tá confuso, várias informações que a gente tinha não entraram. Essa organização em diálogo, sei lá, em hífens não ficou muito boa.

Falta coisa pra colocar, mas falta principalmente organizar o texto.

Ficou legal a sua postura em primeira pessoa durante o texto. A contax é voraz.

2:23 PM  
Anonymous Anônimo said...

Acho que esse comentário deveria tá lá no post anterior, mas...

Não gosto muito dessa coisa de personagens da vida real. Sempre acho que existe uma certa exploração e romantização da realidade que acaba tornando textos desse tipo superficiais, embora isso não aconteça por aqui com muita freqüência.

Quando leio a primeira frase de um texto do Pedro, penso logo: "é do Pedro!" Se isso é bom ou ruim, ele que deve saber né,hehehe.

Ah, só quem pode comentar aqui é quem tem cadastro no Blogger é? Isso talvez seja uma dificuldade pra quem quer comentar.

Bom, boa sorte e vida longa ao blog.

3:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

vou reler os textos nessa perspectiva de romatnização da realidade zé bruno. Na minha cabeça, isso deve ter acontecido em alguns mesmo, apesar de estar diametralmente oposta a nossa proposta. Às vezes, a própria experiência tem esse ar, como a minha com a Mônica, que foi publicada em fragmento aqui.

Acho que a realidade tem a sua dimensão romântica também, basta saber compreender até onde isso vai.

Acho que todos podem comentar, mesmo sem ser do blog zé, é só mudar ali embaixo.

valeu

10:49 AM  
Anonymous Anônimo said...

ah! só mais uma coisa zé, a nossa proposta não se limita a personagens da vida real... Vários textos tomaram esse rumo, mas a idéia é tentar fugir um pouco disso nos próximos.

12:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

ramoj, achei um pouco confuso.. tem horas q nao sei quem fala direito .... tendo eu que voltar e reler os paragrafos anteriores...
Acho que faltou um pouco mais de impacto do que realmente acontece por lá... naqule dia em que conversamos falamos de varias outras coisas...talvez com a continuaçao da apuracao vc consiga isso , valeu bju

11:36 AM  
Anonymous Anônimo said...

outa coisa... cade as fotos gente..... elas sao importantes....
bjao

11:37 AM  
Anonymous Anônimo said...

Meu povo, é o seguinte, tava guardando isso pra mais tarde na reunião mas acho q algumas pessoas podem se interessar tbm. Tinham todas aquelas paradas q a gente tinha conversado da automação, dos stresses e tal. Mas eu n achei ninguem q falasse isso, provoquei de varias maneiras e nada. Não sei se porque n achei as pessoas certas nesse aspecto ou pq elas ja foram colocadas pra fora. talvez o povo q eu falei tenha medo de represálias ou mesmo já introjetaram o discurso de tal forma q consideram tudo natural, ainda mais com os "brindes" q a empresa dá e a imagem de ascensão e tal.

Mas o texto n tá bom, nem faz juz a pauta. pretendo voltar lá mais vezes e refaze-lo. Tem outras questões tbm q eu intercalo falas q n foram ditas na mesma hora q eu acho complicado e a gente vai ter q discutir.

Mas só pra esclarescer, eu fui lá falei com as pessoas e não encontrei aquelas informações q a gente tinha pensado previamente por isso elas n estão no texto. Pq as pessoas q eu entrevistei tem mais propriedade pra dizer o q acontece lá do q eu.

12:43 PM  
Blogger bruno reis said...

Nossa, legal, tratar de um tema tão próximo, mas tão próximo que às vezes acaba passando batido. Interessante o foco da reportagem, a criticidade do repórter e a forma como ele aborda o assunto.

5:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

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1:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

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1:50 PM  

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