sexta-feira, maio 19, 2006

Meninos do Coco


Sol quente de rachar o asfalto, rostos suados sombreados pelo boné, correria entre os carros na disputa pelo próximo cliente sedento. “É nesses dias de sol que a gente vende mais água de coco no sinal”. Av. Treze de Maio com Av. Carapinima. “OOOlhaaa o coco coco coco gelado olha o coco gelado olha o coco...”

O dia amanhece e Solano começa sua rotina de trabalho engarrafando águas de coco diariamente no Montese. “Tem que ser todo dia, porque se não a água estraga”. A matéria prima é vendida pelos caminhoneiros que trazem os cocos de Paraipaba, região mais rica em coqueiros no Ceará. Cinco meninos, que logo mais estarão nas ruas da cidade, ajudam Solano no processo de engarrafamento. “A gente usa um equipamento que funciona pelo mesmo princípio do gelágua. A gente abre o coco coloca na máquina e ela já sai na temperatura adequada para o conservamento. Imediatamente colocamos nas garrafas, lacramos e colocamos no isopor com gelo.”

Por volta das nove da manhã, lá vai Solano, deixando seus funcionários e isopores nos cruzamentos da cidade. Av. Treze de Maio com Carapinima: aqui ficam dois, Edilson e Alexandre. “Em dia de sol, a gente vende mais ou menos 70 garrafinhas de água de coco. Tristeza é quando chove. Não chega nem a vender 10.” Os meninos, enquanto conversam comigo, ficam ligados no trânsito para não perder nenhum consumidor.

Meio dia! Hora de almoçar. A quentinha está incluída no contrato verbal. Solano compra os cocos dos caminhoneiros por 15 e 30 centavos, depende do tamanho do coco. Depois de engarrafá-las, passa para os meninos por 75 centavos. Edilson e Alexandre revendem por 1 real. Logo, um ganho de 25 centavos por garrafinha. Toda a negociação entre os meninos e Solano é por consignação. Se ganha, o quanto se vende. “No final do mês, se for bom de sol, chega a uns 600 reais, da pra ajudar lá em casa.”

São 10 vendedores que trabalham para Solano no momento. “Mas no verão, meses de setembro a dezembro, chega a dobrar esse número de vendedores, a saída é bem maior”. Bela Vista, Centro, São Cristóvão, Montese, Serrinha. Tem vendedor de todos os bairros. Edílson já trabalha no ponto em frente ao Shopping Benfica a 1 ano e meio. Está há três anos com Solano vendendo coco. Antes, ficava ali, em frente ao Pão de açúcar, no cruzamento da Av. Aguanambi com a Rua Soriano Albuquerque. “Mas ali começou a ficar devagar o movimento, ai eu preferi vim pra cá.”

Tem alguns lugares que a concorrência é grande e nem sempre a venda é tão tranqüila assim. “Às vezes, quando tem vendedor de outro fornecedor, tem alguns que brigam pelas vendas, mas eu mesmo nem me meto”. O magrelo Edílson, apesar do sol escaldante e torturante de duas horas da tarde, mostrava-se calmo e sereno ao conversar comigo.

Final de tarde, os meninos vão embora junto com o sol. Solano passa nos pontos de venda, recolhe o isopor e a grana. Calcula o lucro diário dos meninos do coco. De imediato, já os paga. “Trinta e cinco reais pra nós Alexandre, maravilha, o sol nos ajudou hoje”.

6 Comentários

Blogger Amanda Queirós said...

Esse ficou com uma cara tão grande de jornal... Eu prefiro quando tem outra cara =P
Acho que o autor poderia ter tentado escrever esse texto em outra forma que não fosse a cronológica. Talvez isso ajudasse os leitores a enxergar essas pessoas mais de perto. A impressão que tenho com o texto é de estar observando os vendedores de coco de longe. Eu prefiro quando eles parecem mais pertinho, mais palpáveis...

11:08 AM  
Anonymous Anônimo said...

Concordo com a Amanda com relação a estar mais de perto, só que a escrita seguindo a cronologia não é parte do problema...mas assim...tem algo interessante nessa reportagem que é a evidência de que as relações de "exploração do trabalho" estão disseminada em nossa cultura, passa pelas classes da base até chegar a das do topo da pirâmede social. Todo Silvio Santos ou Seu Jaime um dia já foram um Solano da vida. Os que tem mais disciplina e perspicácia chegam lá mais rápido, os que não tem não chegam...continuam dependendo dos patrões....exagerei?

11:52 AM  
Anonymous Anônimo said...

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