quarta-feira, abril 18, 2007

Impressões do Antônio Bezerra

Por Raquel Gonçalves

Primeira percepção: ainda está bem movimentado. Isso não dura mais que 20 minutos e as plataformas começam as esvaziar. Uma exposição tirada do arquivo do Nirez me chama atenção. Quem diria? 87 anos depois a praça do Leões está completamente diferente. Óbvio. Mas mudou para melhor, pelo menos na foto. A copa de um grande arvoredo sombreou toda a praça em 2007. As pichações não são visíveis na fotografia.

Só consegui contar três ratos correndo sobre o calçamento do terminal. Já o zigue-zague das baratas não me deixava relaxar. Não sei quem tinha mais medo: elas de serem pisadas ou eu de pisá-las.

Ao tomar meu café com um sanduíche de queijo percebo alguém vorazmente tentando saciar uma fome que mais me pareia insana. Um caldo de carne gorduroso e com bastante osso. Ele chupava o sabor do osso deixando escorrer no canto da boca o desejo de devorar aquele prato. O movimento de suas duas mãos lambuzadas dentro do prato e a incontinência de seus olhos deixaram sutis sinais da química que percorria no seu sangue. “Dá pra sair um copo d’água?” A moça do balcão entregou e ele bebeu de um gole só. Sua piração não deixou que esperasse o outro caldo que havia pedido e penso que já nem mais lembrava. Andou firme, em direção ao primeiro banco que viu e deitou com o braço sobre os olhos, mesmo com o tic nervoso da “perna que não parava de balançar”.

Na fila do Jardim Guanabara-Nova Assunção se concentra o maior número de pessoas. A maioria homens. Consegui contar somente duas mulheres usuárias dentro do terminal em determinado momento. Confesso que me senti um pouco ameaçada pelos olhares masculinos.

Uma moça branca, de cabelos lisos, bem vestida, de sacola na mão me parece nervosa e agoniada com a demora do Conjunto Ceará–Antonio Bezerra. Contei mais de uma hora ela sentada na mesma posição esperando o ônibus. Não vejo o seu destino final quando ela, impaciente, levanta-se, anda em nossa direção, cruza nosso banco e desaparece.

Um carro da polícia, alguns bêbados, três ratos, poucas mulheres, milhares de baratas, trabalhadores, um cheirador de pó, garçons, um louco, um casal homossexual, um cana de botas que mais parece um morto dentro do banco sentado numa cadeira escondida atrás do caixa eletrônico....

Essa foi a madrugada do dia 11 de abril no terminal do Antonio Bezerra.