segunda-feira, setembro 18, 2006

livros artesanais


Oficina de livros artesanais elaborados com material recolhido por catadores das ruas de Fortaleza. De 21 de setembro a 01 de outubro, no Ateliê de Artes do Dragão do Mar. Informações e inscrições: 34887601/ literatura@dragaodomar.org.br

Quem vai fazer é essa galera aqui:

A Editora Eloisa Cartonera é um projeto artístico-social-comunitário, sem fins lucrativos, que produz livros artesanais utilizando papelão recolhido nas ruas de Buenos Aires. Jovens artistas trabalham conjuntamente com catadores de papel capacitando-os e estimulando suas próprias potencialidades através da literatura e das artes plásticas.

Em Fortaleza, Eloísa Cartonera se instala no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura através da coordenação do poeta argentino Cristian De Nápoli e do poeta mato-grossense Douglas Diegues, trabalhando a partir de material reciclável recolhido nas ruas da cidade. Ambos já publicaram pelo projeto, e se propuseram a organizar, como primeiro número de Eloisa Cartonera neste lado do país, uma antologia de jovens poetas cearenses trans-traduzidos para o portuñol.

Pode crê. Isso é Território de Expressão no e do Mundo Anônimo.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Tiozinho do pijama


Bem... Foi sempre um problema para a gente conceituar esse tal mundo anônimo do qual a gente se proclamou como um dos espaços de expressão dentro dele. Anônimo. Algo que flerta com a questão da invisibilidade pública, tanto a partir dos meios de comunicação, quanto na sociabilidade diária. Pessoas que em níveis de hierarquias arraigados de nossa sociedade - que indicam leituras (ou não-leituras) de fenótipos em questão de segundos - são relegadas ao plano instrumental, não como sujeitos, mas como funções...

E o que isso tem a ver com o título: tiozinho do pijama. Eu também não sei ao certo, mas contar boas histórias é sempre uma ótima forma de prestar carinho ao ser humano. O certo é que o tal tiozinho do pijama conseguiu subverter a ordem hierárquica que dita até os modos de vestir com uma saída sensacional.

Mundo Anômimo?

Para mim, totalmente...

pedro rocha

ps: quem lê esse blog, pode dá um alô ai nos comentários. É que a gente tá desconfiando que só o grupo e a Marília lê isso aqui. Ah! Tem a Débora também.

terça-feira, setembro 12, 2006

A Diarista


Salve, Salve Natalia Viana, jornalista da Caros Amigos, de olhar e texto sinceros. Na reportagem O trabalho e os dias, que o TR.E.M.A. foi catar na seção Vale a pena ler de novo no site da revista, ela veste os dias de mulheres sujeitas ao subemprego em São Paulo, lugar em que homens e mulheres são copos jogados diariamente do alto de um precipício, estilhaçados, para mais na frente juntar seus cacos. Humilhação social meu caro. Um martelo de cima pra baixo a lhe achatarem numa estera rolante. Rumo ao que não sei.

foda...
pedro rocha

ps: para ler a matéria é só ir na seção Vale a pena ler de novo e apertar em arquivo, la embaixo, depois da entrevista com Paulo Mendes da Rocha.

ps2: aqui nesse mesmo blog, já digitalizamos e disponibilizamos uma reportagem de Xico Sá sobre os Homens-sanduíche. Aqui está.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Fractais, jornalismo e outras nóias

Nasceu, viveu, procriou – ou não – e morreu. Teve trinta amantes, quinze filhos reconhecidos legalmente e tantos outros bastardos. Foi molestado, daí ter feito o que fez. Cuspiram-lhe na cara, daí ter dado o troco na hora certa.

Do ano um ao último suspiro; do primeiro gozo, da primeira puta à luta contra o vício – pelo menos é o que almejam abarcar onze entre dez projetos biográficos.

“Na verdade, a biografia que vende é uma biografia do tipo linear, baseada naquilo que o Pierre Bourdieu chamou de ilusão biográfica. A ilusão de conseguir apreender a história de uma vida com causa e conseqüência, com começo meio e fim.” E, todos sabemos, nem sempre as coisas acontecem assim, com data marcada e set de filmagens à guarda dos grandes acontecimentos de nossas vidas. Nossas bestas vidas.

Mas, afinal, por que gostamos tanto de biografias? Por que nos esbaldamos lendo sobre a vida e/ou obra de gente que só ouvimos falar – às vezes muito bem, outras nem tanto. Por fim, e mais espantosamente ainda, o que têm em comum a Física Quântica e a forma do relato biográfico?

Resposta à última pergunta: muita coisa.

Quanto às demais, dêem um clique aqui e leiam a entrevista concedida a Tiago Coutinho por Felipe Pena, jornalista e professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF).

[Entrevista]


Pedro Martinelli é fotógrafo. Pouco tempo atrás, veio a Fortaleza para dar palestra sobre a sua experiência de trinta anos fotografando e vivendo com sua gente embrenhado na selva. Antes de ser fotógrafo, porém, Martinelli é cidadão. "Do mato", como disse o outro Pedro que o entrevistou. Seguem alguns trechos da entrevista. O troço todinho, porém, tá aqui. Confiram.

"O mato foi me civilizando, o caboclo foi me civilizando".

"A fotografia digital é igual um telefone celular, quem mexe em um celular sabe mexer em uma câmera. Isso é muito legal porque socializou a fotografia, por outro lado banalizou também. As pessoas acham que a fotografia é cor e qualidade. Eu acho que não, a fotografia é emoção, você pode ter uma foto fora de foco que passe emoção. Pra mim tanto faz, se eu tiver de fotografar com uma câmera digital, mecânica, um pedaço de pau, tanto faz. Pra mim vale o que tá na cabeça. A câmera só serve pra decodificar o que tá na sua cabeça".

"É exatamente o que eu te disse, como fotojornalista eu recebia ordens, tinha prazo pra fazer as coisas, tempo, dinheiro. Então você estava sempre tenso, entrando nos lugares sem pedir licença, dar bom dia, querendo fazer as fotografias. Eu gosto de fazer as coisas no tempo em que elas têm que ser feitas. Eu chego não como fotógrafo, mas como cidadão. Não adianta chegar fotografando, porque eu não sou fotógrafo de foto única, minhas fotos têm que ter enredo. Eu tenho primeiro que explicar pra comunidade o que eu faço, quais são as minhas intenções, deixar isso muito claro. Eles me acolhem. Eu começo a fazer a fotografia que as pessoas dizem que parece que não tem fotógrafo. Eu passo a conviver com eles, enfiado nos confis do mundo. Eu gosto mais de estar junto do que fotografar às vezes, então isso é um diferencial pra fotografia, você estar no tempo dos fotografados. Você vai na roça colher mandioca na hora que tem que colher mandioca, você não vai na hora que o fotógrafo tem que bater a foto. Então quando você passa a enxergar o mundo como ele é, sem interferência, acompanhando, convivendo, é outra fotografia".

domingo, setembro 03, 2006

Diários de ônibus 2

Por Diógenes


É tão grande que não se pode vê-la. Mas de cima, rodeado pelas luzes das casinhas sobrepostas que refletem no asfalto em sangue, podemos caminhar o olhar sobre sua devassidão sedutora. Nela mora a multidão, o tal monstro sem rosto e coração que devora semblantes e silencia gritos em sua combustão permanente de ruídos. Sua massa é conjunto de possibilidades excitantes de fornicações, mal-dizeres e esgotos de perfume barato.

Estou ali num daqueles ônibus a fitar alguns consumidores saltitantes com seus sacos de sonhos embalados pelas cores berrantes de cada esquina.

Só que inquietude essa tão distinta que assobia grunhidos de gozos interrompidos pelo incômodo olhar do outro a espera de carinho?

A explosão arrebatando a multidão num frenesi contínuo castiga todo intento de comunhão. Sobra o próprio continum fragmentado de afetos entrelaçados em fotos de recordação empoeiradas pela falta de memória. E talvez seja esse o maior escândalo de nosso tempo, o de não saber se a estrada da qual saímos agora a pouco estará disponível para uma volta.

Frente ao espetáculo gratuito de aparelhos sanitários dos “plim plins”, quero é morder a orelha de uma ninfa e martelar as paredes com suas costas, num vai e vem frenético de impulso e vontade.

Brincar pela manhã de mangueira, jorrar a água sobre o corpo, seca-lo pelo sol enquanto se vigia as travessuras de insetos, anfíbios e lagartos. Passear a tarde pela imponência dA Construção, cuspir sobre seus arquitetos. Canalhas! Ainda vão se banhar da saliva e sêmen, de sangue e vômito, banhar-se-ão em lágrimas para secá-las ao vento frio da madrugada.

Nosso dia vai chegar
Teremos nossa vez.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Nós é nigeriano!


"Nós é nigeriano", o Bruno Xavier (o da foto, falando, pouco antes da exibição na Bienal) soltou em uma das reuniões do grupo na casa do Eduardo, quando a gente marcava dia e hora para as filmagens, intensivas filmagens de 3 dias seguindos, no terminal de ônibus do Papicu, pela madrugada. Três dias com o tal do relógio biológico desorientado. Idéia que por mais represente nosso corpo sob o tempo compartimentado de nosso cotidiano hierarquizado, diz algo fundamental: "A noite, o frio da lua, foi feito pra dormir". Esta uma frase de um cozinheiro entrevistado numa dessas madrugadas, que por incoerência, não gravei o nome.

Três dias. Coisa pouca, pra o próprio cozinheiro ou para outros tantos com os quais falamos ou para o Paulo, trocador do terminal, que passa suas madrugadas em uma guarita, ao som da roleta, do bip do passecard, da televisão e seus filmes do Intercine, intercalo por propagandas de lançamentos da Som Livre.

"Nós é nigeriano". Eu senti algo naquela vez, bem mais que o riso que me escapou, instânteneo, como são os melhores, quando ouvi o sotaque paulistano do Bruno dizer aquilo. Não sei, desde quando eu li a reportagem na BRAVO! da tal indústria cinematográfica da Nigéria produtora de mais de 900 filmes por anos, bem maior, na verdade o triplo, da estadounidesnde ou mesmo dos 600 da Índia. Não sei, quando eu li aquilo, lá dizia, que o país não tinha praticamente salas de cinema, que a distribuição era feita pela venda de cópias de DVD por 3 dólares, pelos camêlos, os mesmo que aqui são perseguidos pela velha muamba. Desde quando eu li aquilo, algo que me fez novamente virar o olhar para a BRAVO!, senti algo. Agora sei: "Nós é nigeriano". As palavras fazem a gente saber das coisas.

O Cadeiras com Rodas foi filmado nos mesmos três dias, editado em mais um. Algo perto de 3 semanas, um mês, entre o rec e o play, em uma tarde ali na Bienal, de pompa, Internacional do Livro do Ceará, em uma sala em que pudemos exibir e discutir nossa produção, ainda inacabada, mas vigorosa. Falta finalizar e começar a vender o DVD. Muamba nigeriana. Tráfico transnacional de concepções.

um abraço,
pedro rocha